Petróleo: como a Europa tem lidado com os impactos da guerra?

Petróleo: como a Europa tem lidado com os impactos da guerra?

Para especialista, conflitos tendem a acelerar as discussões por novas matrizes energéticas 

Área de refino em Yaroslavl, na Rússia. O país é o segundo maior fornecedor de petróleo no mundo. (Foto: Nikolay N. Antonov/Adobe Stock)

 

Por Andreza de Oliveira

Com os conflitos entre Rússia e Ucrânia, iniciados no fim de fevereiro deste ano, o mundo inteiro sentiu o aumento no preço do petróleo, visto que a Rússia é o segundo maior fornecedor do produto. No Brasil, por conta da política adotada pela  Petrobrás,  elevações recordes foram registradas nos preços dos combustíveis.  

Entretanto, os países pertencentes à União Europeia (UE) também foram economicamente impactados pelo conflito nos países vizinhos. Cerca de 40% do gás natural importado na Europa, com exceção do Reino Unido e França, é de origem russa. Produtos como trigo e cevada também registraram aumentos nos países da UE.

Economista e professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Daniela Cardoso Pinto aponta que a Europa é o principal consumidor da commodity russa por conta das baixas temperaturas do hemisfério norte e por uma questão estratégica de proximidade geográfica. “É um continente que precisa de aquecimento por gás natural, principalmente no período do inverno”, explica.

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Em decorrência das sanções, o continente europeu diminuiu o consumo do gás russo, o que, para Cardoso Pinto, eleva a inflação dos países do bloco. “Mesmo encontrando outro fornecedor, como os EUA, o transporte sem o gasoduto pra chegar até a Europa, como é facilitado pela Rússia que é do lado, causa elevação da inflação”, elucida.

No dia 4 de maio, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o bloco deixaria de comprar petróleo de origem russa. A UE baniu também a exportação de tecnologias de refino para a Rússia com o objetivo de dificultar a modernização das refinarias do país.  

A economista explicou que, com uma inflação prolongada, já que a guerra não tem expectativa de término, o Produto Interno Bruto (PIB) europeu tende a se retrair. “O crescimento do PIB das economias europeias está comprometido com a manutenção dessa guerra”, afirma. 

Em maio, a inflação anual da zona do euro bateu recorde, atingindo 8,1%.

Alternativas

Para evitar o consumo de gás de origem russa, os países pertencentes à União Europeia têm optado pela importação do produto norte-americano. “São quem mais estão ganhando com essa guerra porque eles podem exportar”, explica a professora. Em março, os EUA exportaram 3,8 milhões de barris por dia, maior número desde julho de 2021. 

O cenário pós-pandêmico, segundo a economista, também colaborou para a acentuação da crise: “Parte dos empreendimentos quebraram, o consumo diminuiu e, agora, com essa nova crise, a Europa tem sido afetada por uma inflação de custos, com todos os produtos ficando mais caros por conta da alta do petróleo”. 

De acordo com a professora, o conflito entre Rússia e Ucrânia facilita a discussão sobre fontes alternativas de energia, como é o exemplo da França, país que não depende completamente de petróleo por possuir  a energia nuclear como principal fonte de energia: “A guerra traz como algo interessante a ser discutido nesses países a necessidade de alteração da matriz energética”. 

No início de julho, a França estatizou a companhia elétrica nuclear EDF em resposta aos conflitos. Segundo o governo francês, a medida foi adotada em busca de uma transição energética de combustíveis fósseis para energia limpa. 

Expectativas

Para alguns analistas, existe a possibilidade de uma crise do petróleo igual ou pior a que ocorreu na década de 1970. Entretanto, segundo Cardoso Pinto, apenas a duração da guerra assegurará que essas projeções sejam corretas. “Esperava-se que durasse menos [a guerra], mas está se prolongando muito mais do que os analistas esperavam. Então, tudo depende do tempo e da estratégia que será adotada”, pondera

Em busca de conter a alta dos combustíveis, governos europeus diminuíram alguns impostos sobre combustíveis e eletricidade, reduziram o preço do transporte coletivo e disponibilizaram alguns benefícios sociais. 

O Instituto Bruegel, especializado em pesquisa política sobre questões econômicas, estima que as despesas em decorrência da crise energética variem entre 0,1% a 3,6% do PIB de cada país da União Europeia. Por isso, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) está recomendando a transferência de renda para os mais afetados pela inflação. 

 

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