Entenda o cálculo utilizado pela Petrobrás para definir os preços dos combustíveis
Vigente desde 2016, o preço de paridade de importação (PPI) define os valores praticados nas refinarias e impacta diretamente a vida dos consumidores
Por Andreza de Oliveira e Guilherme Weimann
Na busca de conter o descontentamento social causado pelos sucessivos aumentos dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou no final de fevereiro a troca no comando da Petrobrás – sai o economista liberal Roberto Castello Branco, entra o general da reserva Joaquim Silva e Luna –, que ainda depende da aprovação do Conselho de Administração.
Neste contexto, vieram à tona questionamentos sobre a atual política de preços praticados pela estatal, que somente neste ano já foi responsável por seis reajustes nas refinarias, que totalizaram elevações de 54% na gasolina, 41,5% no diesel e 17,1% no gás de cozinha.
A causa desse encarecimento remete à outubro de 2016, quando a Petrobrás, sob o comando de Pedro Parente, que havia sido indicado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), implementou em outubro de 2016 o preço de paridade de importação (PPI). Este é um modelo de cálculo que define os preços dos combustíveis vendidos nas refinarias.
O PPI considera quatro elementos centrais na definição dos preços: a variação internacional do barril do petróleo; as cotações do dólar; os custos de transporte; e uma margem imposta pela companhia, que funciona como uma espécie de ‘seguro’ para evitar prejuízos.
Aplicado ao mercado brasileiro e somado à crescente desvalorização do real e ao aumento no preço internacional do petróleo, quem está sendo prejudicado é o consumidor final dos derivados. Entre outubro de 2016 e março de 2021, o PPI foi responsável por aumentos nas refinarias de 73,3% no preço da gasolina, 54,8% no diesel e 192% no gás de cozinha.
Descontentamento crescente
Justamente por conta desses aumentos frequentes dos preços dos derivados de petróleo, o PPI acabou culminando, em 2018, na histórica greve dos caminhoneiros que paralisou o Brasil por dez dias.
Devido aos prejuízos ocasionados pela mobilização, estimado em R$ 126 bilhões para a Petrobrás, a gestão da estatal decidiu manter o PPI, mas suspendendo os reajustes diários e optando por mudanças de menor frequência nos reajustes dos preços.
Contudo, o problema ainda se mantém e, no primeiro dia de fevereiro deste ano, os caminhoneiros voltaram a realizar uma paralisação, após mais de dois anos e meio. Além disso, a inflação fechou 2020 com o maior índice desde 2016. Os alimentos, por exemplo, subiram 14%, afetando diretamente o prato dos brasileiros.
Este cenário, somado à precariedade das condições de trabalho, também foi responsável por duas paralisações nacionais de entregadores de aplicativos em julho do ano passado, conhecidas como ‘breques dos apps’.
Atualmente, diversos motoristas e entregadores de aplicativos estão se articulando para realizarem uma paralisação nacional na próxima quarta-feira (17), com a pauta da melhoria da remuneração e do fim dos descontos oferecidos aos clientes em momentos de menor demanda.