Importadores cobram mais aumentos nos combustíveis da Petrobras para poderem competir no mercado interno

Importadores cobram mais aumentos nos combustíveis da Petrobras para poderem competir no mercado interno

Presidente da Abicom defende reajustes ainda mais elevados e frequentes nos preços dos combustíveis cobrados pela Petrobras, para evitar prejuízos aos importadores que pagam o preço flutuante do mercado internacional

Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

Na última semana, a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) protocolou um ofício no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) alertando sobre interferências por parte do governo nas tarifas dos combustíveis da Petrobras, que vem sendo consideradas “predatórias” por estarem abaixo da paridade do mercado internacional.

A decisão em contatar o Cade, que atualmente analisa o documento protocolado, ocorreu com o objetivo de buscar informações e esclarecimentos sobre as práticas da estatal após dados da Abicom apontarem uma defasagem média no preço internacional do diesel em R$ 0,22 por litro, e em R$ 0,31 na gasolina.

Segundo Sérgio Araújo, presidente da Abicom, em entrevista à Reuters, a situação é “insuportável” e há indícios de que os prejuízos aos investidores e acionistas da Petrobras estejam sendo ocasionados pelo governo brasileiro – que interfere diretamente nos preços da petrolífera brasileira -, visto que a defasagem nos valores perante o mercado internacional prejudica os negócios de empresas privadas.

Araújo também apontou que a expectativa de todo o mercado era de que os preços fossem ajustados ainda no fim da última semana, o que não ocorreu.

A Petrobras foi contatada, mas até o momento não respondeu aos questionamentos da imprensa sobre o assunto. O Ministério de Minas e Energia (MME) também foi procurado e declarou que “os preços de combustíveis no Brasil são livres e acompanham as tendências de mercado”.

O que diz um especialista?

A atual gestão da estatal também defende que os preços praticados sigam a chamada Paridade de Preço de Importação (PPI), sistema diretamente influenciado por cotações internacionais de petróleo e câmbio, mas com uma volatilidade menor se comparado ao mercado internacional. 

Para Rodrigo Leão, economista e coordenador do Instituto de Estudos Estratégico do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), o principal motivo para a queixa dos importadores é justamente a queda na volatilidade de preços que são praticados pela Petrobras e a atualização dos valores em uma menor frequência. 

“Num mercado como o brasileiro, com o transporte rodoviário como fundamental, se voltássemos com a volatilidade de preços igual a praticada pela Petrobras em 2018, voltaríamos a um cenário semelhante ao da greve dos caminhoneiros, seria um caos”

RODRIGO LEÃO, COORDENADOR DO INEEP

Com a adoção dessa medida atual, os investidores não se sentem contemplados, visto que a Petrobras não acompanha a mudança diária no mercado internacional. “É completamente inviável, inadequado e desorganizador à economia brasileira fazer reajustes diários nos preços dos combustíveis, não dá pra comparar o cenário daqui com as políticas de outros países, cada um tem suas especificidades”, explicou Leão. 

Apesar dos consumidores já sentirem os efeitos da PPI nas bombas de combustíveis, segundo o economista, os importadores prezam por um reajuste mais frequente e no período de tempo definido por eles. “Quando a Petrobras não reajusta seus preços, os importadores são obrigados a alterarem seus valores para conseguir competir no Brasil, e isso pode ocasionar prejuízos a eles”, completou. 

Ainda, de acordo com Leão, a atual política de preços da Petrobrás é mais sensível à microeconomia, mas por conta das privatizações e vendas de consideráveis partes da estatal, deixa claro uma incoerência do governo. “Essa política de hoje não atrapalha o processo de privatização da empresa, mas mostra uma contradição do governo, que do ponto de vista macroestratégico, é pior que seu antecessor”, concluiu o pesquisador.

 

 

 

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