Petrobras e Vale pagam mais dividendos em 2021 do que 226 empresas somadas

Petrobras e Vale pagam mais dividendos em 2021 do que 226 empresas somadas

Petrobras e Vale, juntas, bateram recordes ao distribuírem R$ 146 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio; entenda os motivos que possibilitaram os pagamentos bilionários

vale

Vale descumpriu lei que estipulava fevereiro deste ano como prazo para a empresa desativar suas barragens a montante em Minas Gerais (Foto: Guilherme Weimann)

Por Guilherme Weimann

De acordo a Economatica, empresa especializada em análise de dados sobre fundos de investimentos financeiros, os dividendos e juros sobre capital próprio distribuídos pela Petrobras e pela Vale no ano passado foram maiores do que a somatória do valor oferecido por todas as outras 226 empresas listadas na B3, a bolsa de valores brasileira.

Em 2021, no total, acionistas de empresas com ações na B3 receberam R$ 291,21 bilhões – a Vale pagou R$ 73,29 bilhões; a Petrobras R$ R$ 72,72 bilhões; e as outras 226 empresas R$ 145,2 bilhões.

Com esses montantes, a Vale e a Petrobras, respectivamente, assumiram a primeira e a segunda posição dos maiores pagamentos anuais de companhias brasileiras de capital aberto. A Petrobras ocupa ainda o terceiro lugar desta lista com os R$ 31,3 bilhões despendidos em 2009.

top 10 do ranking do ano passado é ainda completado, na sequência, pela Ambev (R$ 11,1 bilhões), Santander (R$ 9,99 bilhões), Bradesco (R$ 9,91 bilhões), JBS (R$ 7,4 bilhões), Banco do Brasil (R$ 7,1 bilhões), B3 (R$ 6,7 bilhões) e Braskem (R$ 5,9 bilhões).

O levantamento da Economatica foi realizado por meio das demonstrações de fluxo de caixa fornecidos pelas próprias empresas para a Comissão de Valores Mobiliários.

Petrobras

Devido ao afrouxamento das restrições de isolamento social, que teve um impacto direto sobre a economia mundial desde o início da pandemia de covid-19, a demanda por petróleo voltou a crescer no ano passado, atingindo 96,8 milhões de barris por dia – em 2020, o consumo médio no mundo foi de 88,5 milhões de barris diários.

Esse foi um dos motivos que explicam a alta da commodity – a média da cotação do barril do tipo Brent foi de US$ 70,41 em 2021, alta de 60,9% em relação à média de 2020. Na comparação dos preços registrados nos dias 31 de dezembro dos dois últimos anos, houve uma alta de 49% na cotação do barril.

Mas a elevação do preço do petróleo no mercado internacional não explica, sozinha, o lucro recorde da Petrobras no ano passado, de R$ 106,6 bilhões. Esta variação do barril é um dos pilares da política de preço dos combustíveis adotada pela companhia nas suas refinarias – além desse fator, também são levados em consideração a taxa de câmbio em relação ao dólar e os custos logísticos para importar derivados para o Brasil.

petrobras

Altos preços dos combustíveis e privatizações foram os principais fatores que possibilitaram a distribuição de dividendos recordes pela Petrobras (Foto: Guilherme Weimann)

Com essa política, em 2021, a gasolina sofreu reajuste de 68,6% e o diesel 64,7% nas refinarias da Petrobras – isso resultou em aumento de 46% no preço da gasolina e 47% do diesel nos postos de combustíveis.

Além disso, de acordo com seu balanço financeiro, a Petrobras vendeu 22 ativos no último ano, totalizando cerca de R$ 30 bilhões. A privatização mais emblemática foi a da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), agora chamada de Refinaria de Mataripe, vendida pela metade do seu valor de mercado para o grupo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos.

Por fim, outro motivo determinante para o recorde nos dividendos distribuídos pela companhia é a decisão de manter baixos seus investimentos. No ano passado, a empresa investiu apenas US$ 8,7 bilhões (cerca de R$ 47 bilhões), menos da metade do que pagou aos seus acionistas.

Vale

Apesar do preço do minério de ferro fechar o ano com um recuo de 30%, a média da cotação da commodity é alta comparada com anos anteriores – US$ 159 por tonelada em 2021 contra US$ 108 em 2020.

Além disso, o minério de ferro foi o produto mais exportado no ano passado, totalizando US$ 37 bilhões – cerca 65% do produto foi destinado à China. Em segundo lugar veio a soja, com US$ 36,31 bilhões em exportações, e logo em seguida o petróleo, somando US$ 23,82 bilhões.

Outro fator que pode explicar os dividendos bilionários distribuídos pela antiga estatal, privatizada no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) em 1997, é o descumprimento sistemático da legislação em relação à segurança de barragens.

Após três anos de sancionada a lei estadual de Minas Gerais 23.291/2019, que determinou a descaracterização de barragens construídas a montante (como era o caso das barragens que se romperam em Mariana e Brumadinho), apenas 5 das 54 estruturas no estado foram desativadas.

Das 54 barragens listadas, 21 são da Vale, que desativou apenas 3 estruturas desde a aprovação da lei. A data divulgada pela própria empresa para desativar as outras 18 restantes é 2035, desrespeitando o prazo estipulado pelos deputados mineiros, de 25 de fevereiro de 2022.

De acordo com dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) referentes ao mês de janeiro deste ano, existem três barragens em Minas Gerais com nível mais alto de emergência – todas da Vale.

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