Salário de presidente da Petrobras equivale a mão de obra de 230 trabalhadores
Recebendo quantia que bate os R$260 mil mensais, general Silva e Luna falha na contenção da alta dos preços do gás de cozinha, gasolina e diesel
Por Odara Monteiro*
Na última sexta-feira (10), artigo publicado na Revista Sociedade Militar, especializada em Forças Armadas, questionou a remuneração de mais de R$ 200 mil do general Joaquim Silva e Luna, atual presidente da Petrobras. A indagação surge em meio à alta nos preços dos combustíveis.
De acordo com o artigo, o salário do oficial equivale ao que é pago pela mão de obra de mais de 230 trabalhadores que recebem um salário mínimo. O texto reproduziu trecho da reportagem do jornal Folha de S.Paulo, segundo o qual militares que atuam no comando de estatais acumulam ganhos mensais que variam entre R$43 mil e R$260 mil – a remuneração mais expressiva é paga ao presidente da Petrobras, que está no topo da hierarquia militar, recebendo, ainda, o salário de General da reserva no valor que chega a R$32,2 mil brutos mensais.
Luna, que assumiu o cargo de presidência na petroleira em abril deste ano, após uma intervenção direta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no comando da estatal, foi alvo de críticas entre militares, e publicou um texto, na home page da Petrobras, justificando sua atuação na gestão da companhia e o alto valor dos combustíveis, deixando de lado qualquer tentativa de explicação a respeito de sua remuneração desmedida.
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Antes de assumir a presidência da Petrobras, o oficial ocupava a Diretoria-Geral de Itaipu que, sob seu comando, mudou regras de indenização, beneficiando diretores com pagamentos que beiravam R$150 mil. Em 2019, graças ao bônus concedido aos funcionários da hidrelétrica, Luna faturou R$221 mil.
Militares no poder
No governo Bolsonaro, um terço das empresas estatais de controle direto da União estão sob o comando de militares do Exército, Marinha e Aeronáutica. Das 46 companhias públicas, 16, ou 34,8%, são presididas por oficiais das Forças Armadas, a grande maioria da reserva.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, em 15 dessas 16 estatais há acúmulos de remunerações, por isso, os rendimentos brutos desses oficiais podem ultrapassar o teto do funcionalismo público federal, de R$39,3 mil – valor equivalente ao salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar da aparente divergência, uma portaria do Ministério da Economia, autorizada em abril de 2021, permite o acúmulo de remunerações por militares da reserva que ocupam cargos no governo. Se beneficiam da regra o presidente Bolsonaro, o vice, Hamilton Mourão, e ministros militares como Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Netto (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência).
Prevaricação da Petrobras
Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), com a venda do patrimônio público e os preços abusivos dos combustíveis, a Petrobras registrou, no segundo trimestre de 2021, lucro líquido de R$ 42,855 bilhões. Por outro lado, só entre janeiro a setembro deste ano, o preço da gasolina subiu em 52% nas refinarias e em 39% para o consumidor.
Para o diretor-executivo do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Estado do Mato Grosso (SindiPetróleo-MT), Nelson Soares, é evidente que o aumento dos preços dos combustíveis ocorre em decorrência da má gestão da estatal.
Enquanto os ganhos variáveis preveem que o general ganhará, em 2021, pelo menos R$260,4 mil brutos por mês, de acordo com o Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), 115 trabalhadores terceirizados da maior refinaria do Sistema Petrobras, a Refinaria de Paulínia (Replan), estão há mais de 60 dias sem receber.